Um santo bispo emprega uma bela comparação para nos fazer compreender o que é o homem velho e a necessidade de o mortificarmos: "O homem, diz ele, santuário de Cristo, é semelhante a um templo magnífico em cujas paredes lançou raízes uma figueira selvagem. O arquiteto levanta as pedras e torna a colocá-las no seu lugar; a figueira destruidora seca e morre. Assim é o pecado: introduz-se, ramifica-se na nossa carne degradada; a morte chega, a parede desmorona-se, a figueira seca, e Cristo divino arquiteto do Seu templo, é que o há-de restaurar pela ressurreição num estado de imutável solidez. Neste mundo, acrescenta o santo doutor, nós não podemos desenraizar a figueira maldita, mas o que pudermos fazer devemos fazê-lo, isto é, mutilar, cortar o mais possível os ramos da árvore e, pela mortificação cristã, impedi-la de dar os seus frutos envenenados." (São Metódio)
A castidade é uma virtude necessariamente austera e mortificada: efetivamente, restabelecer e manter a ordem naquele ser dividido a que o pecado nos reduziu, é positivamente subjugá-lo. Ela não poderia viver nem poderia desenvolver-se sem o socorro da mortificação cristã, que reprime e disciplina os nossos sentidos corporais e as nossas potências interiores, imaginações e afetos, a fim de deixar livre expansão à nossa alma. "A mortificação, cortando-nos os dois pés, obriga-nos a não mais nos servirmos senão das asas." (Mons. Gay)
O demônio vê os castos e os consagrados elevarem-se diretamente para Deus, pela simplicidade e pela pureza. O seu trabalho maldito consiste em impedir essa retidão de coração, em aviltar as almas até à terra, em imprimir-lhes uma tendência para as afetações, a sensualidade, as comodidades. Ele sabe bem que o lírio amolecidocurva-se, inclina a haste, toca na terra e, em vez de dar a sua corola branca e suave, morre e apodrece. A alma casta eleva-se e mantém-se irmã dos anjos, com a condição de deixar a terra "dos que vivem molemente" (Job., XXVIII,12), e de fazer à natureza má uma guerra sem quartel, de viver numa contínua austeridade.
"Sejamos nós o que quer que seja: dotados das mais felizes disposições ou possuídos de más tendências; iniciados ou veteranos na piedade; na posse intacta da nossa veste de inocência ou não tendo mais do que farrapos maculados, todos nós temos uma indiscutível necessidade de mortificação; é um meio necessário a todos para se adquirir ou conservar a virtude. Ao cavalo mais educado é sempre bom manter a rédea um bocadinho curta e fazer sentir a espora". (Rodriguez)
"É a cruz que se tem de levar em cada dia, diz São Bernardo; mas a unção de divina graça torna-a tão leve!"
Afetos. - "Ó Deus onipotente, nós Vos entregamos os nossos sentidos para a mortificação; concedei-nos que sintamos uma santa alegria; e que sendo mitigado o ardor dos nossos apetites terrenos, nós possamos saborear mais comodamente as coisas do céu. Assim seja" (Missal Romano).
Exame. - Estou eu convencida da necessidade de me mortificar para me conservar casta? - Não me tranquilizo imprudentemente, sob o pretexto de que não tenho, atualmente grandes tentações? - Procuro tornar-me hábil para tudo aproveitar no sentido de contristar, contrariar, incomodar, arruinar a má natureza? - O que faço eu, exatamente, com este fim? - Se eu não for corajosa e constante na mortificação, o que é que me poderá dar segurança?
Resolução.Ramalhete espiritual. - "Se vós viverdes segundo a carne, morrereis; se mortificardes pelo espírito as obras da carne, vivereis". (Rom., VIII, 13).
(Ensaio sobre a castidade, pelo Pe. F. Maucourant, edições Paulistas, ano de 1959, com imprimatur)
Fonte: A vida Sacerdotal
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